sexta-feira, 1 de maio de 2009

Posição Estratégica de Cabo Verde


Um simples vislumbre de um mapa é o suficiente para logo nos apercebermos da situação privilegiada de Cabo Verde como ponto estratégico determinante no Atlântico Médio.

Na perspectiva do Atlântico Sul, no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, CPLP, Cabo Verde coroa, como vértice a Norte, o triângulo formado por Angola-Cabo Verde-Brasil, um pouco também como uma espécie de arquipélago mediano entre a Europa e África, arquipélago de transição entre ambos os continentes, tanto podendo ser visto quer como o território europeu mais a Sul quer como o território africano subsariano mais a Norte.

Atendendo à posição geográfica de Cabo Verde, logo se torna evidente a sua natural vocação para se tornar no que desde sempre foi, ponto crucial de interligação entre ambas as margens do Atlântico, entreposto por excelência entre África, as Américas e a Europa.

Na verdade, desde a sua descoberta em 1460 e da fundação da Cidade Velha, na Ilha de Santiago, dois anos mais tarde, Cabo Verde logo se tornou o entreposto comercial por excelência e, consequentemente, também de aprovisionamento e abastecimento das rotas que cruzavam o Atlântico, servindo mais tarde como ponto nevrálgico de interligação entre Portugal Continental, a Metrópole, África o Brasil e mesmo os mais distantes possessões no Índico e no mais distante Oriente.

Até ao fim da escravatura, Cabo Verde, serviu também, naturalmente, como entreposto de escravos, transformando-se, com o fim da escravatura, num povo singular em resultado da perfeita miscigenação entre europeus brancos e negros da costa africana.

Povo singular que ainda hoje é determinante marca de Cabo Verde, uma das nações do mundo e mesmo considerada como a terceira nação mais estável de África, apenas suplantada pelas Ilhas Maurícias e Seychelles, segundo um estudo da norte-americana Brooking Institution.

A singularidade de Cabo Verde afirma-se, porém, de modo ainda mais significativo, no seu apurado sentido estratégico.

Arquipélago composto por nove ilhas principais e alguns ilhéus mais, com escassos recursos naturais, onde só o vento é certo, com um clima predominantemente seco, Cabo Verde vale, antes de mais e acima de tudo, pela sua posição geográfica, sendo exactamente isso quanto os sucessivos Governos de Cabo Verde têm sabido vir a valorizar, de modo sábio e persistentemente.

Pela sua posição geográfica, pela indiscutível estabilidade política e um notável conjunto de massa cinzenta, não só já potencial mas também em acto, com muitos quadros regressados de Portugal, Estados Unidos e Holanda, as principais comunidades espalhadas pelo mundo, permitindo-lhes inclusive possuírem hoje um superavit no Orçamento do Estado, e dispondo já de uma Universidade, não surpreende as notícias que manifestavam o genuíno interesse dos Estados Unidos na escolha de Cabo Verde para sede do Africom. Pretensão delicada mas sabiamente declinada.

Não obstante, não deixa de ser particularmente significativo o facto de Cabo Verde ter sido igualmente a primeira nação africana a participar numa acção combinada de patrulhamento marítimo com a Guarda Costeira Norte-Americana, no âmbito do programa Africa Partnership Station.

Do ponto de vista dos Estados Unidos, a estratégia não só é imediatamente compreensível como perfeitamente justificada. Tanto mais quanto, se tivermos concomitantemente em atenção a sua posição nos Açores e a conjugação das magníficas potencialidades da rede natural de Portos de Cabo Verde, logo se percebe o sentido e importância de uma possível a linha de defesa e segurança que importa aos Estados Unidos instituir e garantir.

Neste enquadramento, quer o estabelecimento de uma aliança bilateral como a possível entrada de Cabo Verde na NATO, seja ou não a instâncias de Portugal, como referido em texto anterior, interessará, com certeza, sobremaneira aos Estados Unidos.

Todavia, olhando uma vez mais para o mapa, logo se tornam também evidentes as extraordinárias potencialidades de constituição uma verdadeira Comunidade de Defesa da CPLP no âmbito do Atlântico, em termos de estabilização e segurança não apenas no mesmo Atlântico mas também na transição do Atlântico para o Mar Interior, o Mediterrâneo.

É essa a estratégia que se nos afigura, de facto, de maior interesse para a Portugal e para todas as nações da CPLP no âmbito do Atlântico, estratégia onde Cabo Verde não deixa nem alguma vez poderá deixar de ter e assumir um papel do mais alto e relevante significado, ou seja, literalmente, significado ou importância crucial.



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