domingo, 24 de maio de 2009

Atitude




Entre as antigas possessões ultramarinas, Cabo Verde sempre um estatuto singular tal como ainda hoje se pode afirmar constituir uma nação singular, tal como, à época, a sua relação com a metrópole e hoje com Portugal.

O povoamento de Cabo Verde foi feito pelos portugueses. Funcionando o arquipélago, durante os primeiros séculos de povoamento, como entreposto de escravos, uma primeira singularidade do actualmente designado povo cabo-verdiano, resulta tanto da miscigenação entre europeus, antes de mais portugueses mas não exclusivamente, e os negros, ou negras, oriundas de diferentes tribos de África, como da miscigenação verificada entre essas mesmas tribos.

Germano de Almeida, autor d’ O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo, origem do filme com o mesmo título, galardoado com o 1º Prémio do Festival de Cinema Latino-Americano de Gramado, no Brasil, e distinguido com os prémios para o melhor filme e melhor actor no 8º Festival Internacional Cinematográfico de Assunción, no Paraguai, discutindo a superioridade da beleza das cabo-verdianas sobre as suas congéneres brasileiras, afirma dever-se à muito mais antiga, recuada e intensa mestiçagem verificada no primeiro caso.

Em diferente plano, quanto isso também significa ou expressa é uma intrínseca e profunda inter-relação entre portugueses e os cabo-verdianos, ou aquele povo que veio a ser assim designado, como em nenhuma outra parte do Império vez alguma veio a verificar-se.

A singularidade da situação dos cabo-verdianos e da sua relação com os portugueses, sempre se manifestou de múltiplas formas, entre as quais se destaca o facto de ter sido sobretudo entre cabo-verdianos que haja recaído também a escolha como as pessoas de confiança para múltiplos lugares de chefia nos restantes domínios do Império, o que nem sempre terá sido inclusive bem visto e aceite pelos restantes povos, não deixando sequer algumas marcas persistirem visíveis ainda hoje.

Orgulhosos da sua independência, os cabo-verdianos sentem-se igualmente orgulhosos de toda a tradição e herança portuguesas, sendo e assumindo-se, intrínseca e estruturalmente, como lídimos descendente lusos.

Nunca tendo existido movimentos de libertação nem guerra em Cabo verde, para muitos dos melhores cabo-verdianos, a independência, tal como se verificou, associando a independência da Guiné à independência de Cabo Verde, foi um acidente e um erro de percurso devido mais aos erros e à falta de visão política de Portugal de então do que a qualquer intenção própria.

Tão rápido quanto possível Cabo Verde desligar-se-ia da Guiné, não subsistindo também qualquer intrínseca raiva nem ódio aos portugueses.

Ao longo dos anos dos anos, i.e., ao longo dos anos depois da revolução de 1974 e do retorno a uma certa estabilidade política em ambas as nações, tem tentado saber acompanhar Cabo Verde, embora o mesmo encadeamento que a luz da Europa tem causado na política interna não tenha deixado de se manifestar na política externa, não chegando nunca tão longe como talvez pudesse e devesse ter chegado.

Para Cabo Verde, o Acordo Cambial estabelecido com Portugal em 1998, bem como as consequentes linhas de crédito então negociadas e abertas, terá sido decisivo para evitar uma situação de catástrofe e bancarrota, mantendo-se os cabo-verdianos agradecidos até hoje a Portugal por esse facto.

Entretanto, porém, o mundo, «composto de mudança», evolui e a posição estratégica de Cabo Verde no Atlântico Médio, já aqui referida, não deixa de ir despertando o interesse de muitos outros povos europeus, destacando-se entre todos franceses e, muito em especial, os espanhóis.

Com uma Parceria Especial com a União Europeia, inserida na área designada como Macaronésia, Cabo Verde tem vindo a encontrar-se igualmente integrado em múltiplos projectos dedicados pela União às regiões ultraperiféricas e parte dos Programas Interreg, discutindo-se já novos próximos passos de aproximação, como seja um Acordo de Livre Circulação de pessoas entre Cabo Verde e a União Europeia.

Cabo Verde contou desde sempre com o incondicional apoio de Portugal à sua aproximação à União Europeia mas, hoje, os espanhóis, em particular, têm sabido estar devidamente atentos à possíveis oportunidades entretanto abertas, com aquele activa atitude que tanto os caracteriza, procurando reforçar continuamente a sua posição e influência sobretudo através de uma crescente cooperação com as Canárias.

Para Espanha, como por extensão para a União Europeia, compreende-se, de um ponto de vista estratégico, a importância de situarem o mais a Sul possível a fronteira de defesa dos múltiplos tráficos e imigração ilegal que, do Sul, hoje ameaçam de forma crescente o Norte.

Nesse âmbito, não por acaso, uma das principais áreas da actual cooperação espanhola com Cabo Verde tem incidido, entre outros aspectos, sobretudo sobre o espaço marítimo, sendo da actual responsabilidade de empresas espanholas a instalação de uma rede de 10 VTS, Sistema de Controlo de Trâfego de Navios, num projecto entre 10 a 12 milhões de euros.

Entretanto, os espanhóis parece estarem a preparar-se também para serem eles os responsáveis pelo financiamento dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira, impondo todavia como condição os mesmos serem realizados por empresas espanholas.

A boa relação entre Cabo Verde e o Instituo Hidrográfico da Marinha de Portugal, é conhecida, bem como toda a cooperação que tem havido tanto nos trabalhos de levantamentos hidrográficos e batimetria ao longo da costa como na ajuda, quer do IH quer da EMEPEC, nos trabalhos de preparação da candidatura à Extensão da Plataforma Continental mas, e o que se afirma é que, no todo, a cooperação portuguesa, nomeadamente através do IPAD, Instituto de Apoio ao Desenvolvimento, tem estado, pura e simplesmente ausente destes domínios.

Cabo Verde, mesmo para a União Europeia é uma região, dispondo-se a investir cerca de quase 50 milhões de euros nos próximos anos para ajuda ao desenvolvimento _ talvez canalizados através do seu representante sedeado na Praia, um Espanhol, como talvez não pudesse deixar de ser.

Estará Portugal a fazer tudo quanto pode ou deve em relação a Cabo Verde?

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